Pesquisa

O desenvolvimento da primeira terapia com células CAR-T da América Latina nasceu do empenho e dedicação, por mais de uma década, de pesquisadores, equipe técnica e médicos.

Esta inovação foi produzida nos laboratórios do Hemocentro de Ribeirão Preto e do Centro de Terapia Celular (CTC-USP), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) da FAPESP e um Centro da USP. A expansão do projeto e chegada à população só foi possível graças a importantes parceiros como a USP, o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (HCFMRP-USP), o Instituto Butantan, a FAPESP, o CNPq, o PRONON e o Ministério da Saúde. O passo seguinte já está em andamento, com o funcionamento do Nutera RP.

Conheça acima o trabalho destes profissionais a serviço da vida no vídeo “Inove hoje e transforme o amanhã – A linha do tempo da primeira terapia CAR-T brasileira”.

Células CAR-T pioneiras na América Latina

Há 25 anos, o Hemocentro de Ribeirão Preto tem se dedicado às terapias celulares. A tecnologia para a produção das células CAR-T foi desenvolvida na Instituição e, como resultado, o primeiro tratamento da América Latina foi realizado em Ribeirão Preto, em 2019. A parceria com o Instituto Butantan desde então permitiu que 20 pacientes com leucemia ou linfoma refratários fossem atendidos em caráter compassivo, com respostas superiores às terapias convencionais.

Os bons resultados iniciais permitiram a continuidade da iniciativa e a criação de uma parceria entre o Hemocentro de Ribeirão Preto, a USP e a Fundação Butantan, com apoio das agências de fomento FAPESP e CNPq, que resultou na construção do Nutera RP. A “fábrica de células” já está em operação e será responsável por atender à demanda dos 81 pacientes do Estudo Clínico CARTHEDRALL.

A terapia com as células CAR-T consiste na modificação genética das células do sistema imune chamadas linfócitos, que circulam pela corrente sanguínea. Estes linfócitos são “treinados” em laboratório para reconhecerem um determinado alvo, e depois devolvidos na corrente sanguínea dos pacientes. O CAR-T atualmente produzido no Nutera é específico para combater um alvo chamado CD19, proteína presente somente na leucemia linfoide aguda de células B e no linfoma não Hodgkin de células B. Desta forma, esta imunoterapia não possui efetividade em outros tipos de câncer.

Nutera amplia as fronteiras de pesquisa na área da saúde

Além da produção das células CAR-T anti-CD19 para o tratamento de leucemia e linfoma, o Nutera RP busca ampliar as pesquisas em novas terapias celulares. O foco é usar o próprio sistema imune para combater as doenças.

Em outubro de 2024, mais de R$ 7 milhões foram aprovados pelo CNPq para a realização de um estudo clínico com foco em doenças autoimunes. O projeto que irá tratar pacientes com lúpus eritematoso sistêmico com as células CAR-T, foi aprovado com a maior nota dentre os participantes da chamada “Genômica e Saúde Pública de Precisão”, promovida pelo CNPq, Genomas Brasil, Ministério da Saúde e Governo Federal, e deve ter início nos próximos anos.

Os pacientes serão tratados em duas instituições, o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (HCFMRP-USP), com a coordenação da Profa. Dra. Maria Carolina de Oliveira Rodrigues e do Prof. Dr. Paulo Louzada Junior, e o Hospital das Clínicas de São Paulo (HCFMUSP), pela Profa. Dra. Eloisa Bonfá e Dra. Luciana Seguro.

"Este deve ser o início de um novo horizonte para a terapia celular, que poderá ser usada para combater outras doenças, como as autoimunes, e não só o câncer. Pode ser um grande avanço para a medicina brasileira.”

A utilização de outras células do sistema imune no combate às doenças também é bastante promissora. As células NK (Natural Killer), por exemplo, uma potente arma do nosso organismo para combater infecções e ameaças, têm o potencial de causar menos reações que os linfócitos T (utilizados na produção do CAR-T), além de possibilitarem a doação por pessoas saudáveis.

Estudos com a produção de células CAR-NK (modificação genética das células NK para combater um determinado alvo) estão avançados no Hemocentro de Ribeirão Preto. A Dra. Virgínia Picanço e Castro, coordenadora técnico-científica da Instituição, explica que o uso das células CAR-NK deve impactar positivamente os pacientes que não podem esperar a manufatura das células CAR-T, pois já estão muito doentes ou não têm células T saudáveis.

"Ao concluir o projeto, almejamos criar um produto clinicamente aplicável, contribuindo para o avanço da pesquisa em terapias celulares e oferecendo novas perspectivas no tratamento de leucemias e linfomas. Em resumo, desenvolver a terapia com células CAR-NK representa uma abordagem promissora para o tratamento do câncer, com vantagens potenciais em termos de segurança, eficácia e acessibilidade."

O Hemocentro de Ribeirão Preto vai receber um aporte de quase R$ 50 milhões para o desenvolvimento da terapia com as células CAR-NK, voltada para o tratamento do câncer, por meio do edital “Mais Inovação Brasil” apoiado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Finep e o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).

Parceria inédita entre Brasil e França desenvolve pesquisa que combate o linfoma no cérebro

A USP e o Hemocentro de Ribeirão Preto firmaram uma parceria inédita com o Institut Curie (França) para compartilhar conhecimentos e tecnologia no tratamento de pessoas afetadas por um tipo de linfoma que atinge o cérebro. O projeto planeja tratar cerca de 20 pacientes brasileiros e franceses a partir de 2026.

O objetivo é construir em conjunto um ensaio clínico para tratar pacientes com linfoma cerebral primário que tiveram reincidência após uma primeira opção de terapia. Clique aqui e saiba mais.

A “fábrica de células” possui um sistema de gestão da qualidade atendendo às legislações referentes à terapia celular avançada e à indústria farmacêutica. Os processos são padronizados, gerando registros e documentos para preservar a rastreabilidade da cadeia produtiva, doadores, receptores das células, produtos de terapias avançadas fornecidos para uso terapêutico; validação dos processos de produção e analíticos. Além disso, a equipe é responsável por atividades de treinamento, formação de recursos humanos, residentes, estagiários e profissionais da área.

O Hemocentro sedia o Nutera RP

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