Estudo Clínico para o tratamento de leucemia e linfoma
O Hemocentro de Ribeirão Preto foi escolhido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser o responsável pelo projeto-piloto no desenvolvimento de produtos de terapia avançada, voltados ao tratamento de pacientes portadores de leucemia e linfoma, com o uso de células CAR-T.
A Anvisa aprovou o relatório de segurança da primeira fase do Estudo Clínico CARTHEDRALL, com a Terapia Celular CAR-T produzida no Hemocentro de Ribeirão Preto em parceria com o Instituto Butantan, e autorizou a progressão para a segunda etapa.
O Estudo Clínico, financiado pelo Ministério da Saúde por meio do Programa para o Desenvolvimento do Complexo Industrial da Saúde (PROCIS), visa tratar 81 pessoas com leucemia linfoide aguda de células B (LLA) ou linfoma não-Hodgkin de células B refratários, em cinco centros de referência brasileiros. O objetivo é verificar a segurança e eficácia das células CAR-T. A meta é oferecer futuramente a terapia de forma gratuita no SUS (Sistema Único de Saúde).
A liberação para a segunda fase do estudo, permite aos centros parceiros, Hospital das Clínicas da FMUSP, Beneficência Portuguesa, Hospital Sírio Libanês, sediados em São Paulo (SP), e Hospital de Clínicas de Campinas da UNICAMP (SP), assim como o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (HCFMRP-USP), também recrutar e tratar pacientes a partir de janeiro de 2025.
Tire suas dúvidas abaixo na sessão de perguntas e respostas. Assista também ao vídeo do Dr. Diego Villa Clé, médico hematologista e pesquisador principal do projeto, com mais detalhes sobre a iniciativa.
Quem pode participar do Estudo Clínico com as células CAR-T?
O Estudo Clínico é focado especificamente em pacientes com leucemia linfoide aguda de células B e linfoma não Hodgkin de células B que não responderam ou apresentaram o retorno da doença após a primeira linha de tratamento convencional, com o uso da quimioterapia, e o transplante de medula óssea, seja o transplante autólogo (quando as células provêm do próprio indivíduo transplantado) ou alogênico (quando as células provêm de outro indivíduo). O CAR-T desenvolvido no Hemocentro de Ribeirão Preto é “treinado” para atingir um alvo específico que se chama CD19, presente somente na leucemia linfoide aguda de células B e no linfoma não Hodgkin de células B. Por isso, esta imunoterapia não possui efetividade em outros tipos de cânceres sólidos.
Como participar do Estudo Clínico com as células CAR-T?
O paciente que acredita preencher os requisitos citados na pergunta anterior deve conversar com o seu médico e solicitar que ele entre em contato pelo e-mail: terapia@hemocentro.fmrp.usp.br, anexando o relatório de saúde do candidato. O e-mail será avaliado pela equipe médica das instituições participantes e, caso se enquadre no Estudo Clínico, o médico responsável pelo paciente será avisado.
Quais as Instituições médicas estão envolvidas no Estudo Clínico?
O Estudo Clínico será realizado gratuitamente em cinco centros médicos do Estado de São Paulo: o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP; o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, em São Paulo; o Hospital de Clínicas da Unicamp, em Campinas; a Beneficência Portuguesa de São Paulo; e o Hospital Sírio-Libanês.
Como vai funcionar o Estudo Clínico com as células CAR-T?
O Estudo Clínico vai tratar 81 pessoas portadoras de leucemia linfoide aguda de células B e linfoma não Hodgkin de células B, com o produto de células CAR-T desenvolvido no Hemocentro de Ribeirão Preto. Após o contato por e-mail do médico com a equipe responsável e a checagem do enquadramento nos critérios necessários, o paciente será convocado para um dos cinco centros citados na resposta anterior, com prioridade ao mais próximo da sua residência. O participante será esclarecido sobre o Estudo Clínico e precisará avaliar se concorda com as exigências da iniciativa. Não haverá nenhum custo financeiro para o tratamento, mesmo em caso de utilização da infraestrutura das instituições privadas envolvidas. Os integrantes serão acompanhados por cinco anos pela equipe médica no centro em que participaram do Estudo Clínico.
Por que o Hemocentro de Ribeirão Preto foi escolhido pela Anvisa para conduzir este Estudo Clínico?
O Hemocentro de Ribeirão Preto é um centro multidisciplinar que se sustenta em três pilares: pesquisa científica na fronteira do conhecimento, difusão das informações para a sociedade e inovação tecnológica em colaboração com o setor produtivo.
A Instituição tem como um dos principais objetivos transformar a ciência em benefício prático e desenvolver tratamentos inovadores na área da saúde. As atividades de pesquisa estão vinculadas a um extenso programa de pesquisas básicas e clínicas para compreender, isolar, cultivar e usar células como um produto terapêutico.
O Hemocentro RP possui uma infraestrutura já estabelecida e consolidada para a produção de células destinadas à terapia celular, em conformidade com os critérios exigidos pela regulamentação brasileira. Faz parte desta estrutura o Laboratório de Criobiologia e Banco de Sangue do Cordão Umbilical e o Laboratório de Terapia Celular, ambos operando em conformidade com as Boas Práticas de Fabricação (BPF). A Instituição possui ampla experiência na condução de ensaios clínicos de fase I/II envolvendo a utilização de células mesenquimais multipotentes (CMM), nos quais mais de 100 pacientes já foram tratados.
Há quase uma década, o Hemocentro RP ampliou o foco de atuação com a produção das células CAR-T. A pesquisa no combate ao câncer com células CAR-T já tratou 20 pacientes com leucemia linfoide aguda de células B e linfoma não Hodgkin de células B e os resultados são muito superiores às terapias convencionais. O objetivo agora é desenvolver um produto nacional e disponível para o Sistema Único de Saúde (SUS).
Qual o impacto da parceria entre Hemocentro de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo e Butantan na produção da terapia com células CAR-T?
A parceria entre o Hemocentro de Ribeirão Preto, a USP e a Fundação Butantan, com o apoio de Instituições de fomento como a FAPESP e o CNPq, resultou na construção das duas unidades do Núcleo de Terapia Avançada (Nutera), em Ribeirão Preto e São Paulo. A “fábrica de células”, localizada no Hemocentro RP, já está em operação e será responsável por atender a demanda de participantes do Estudo Clínico e futuramente até 300 pacientes por ano.
O Nutera RP permite ampliar as operações de fabricação, atendendo à crescente demanda e mantendo um rigoroso controle de qualidade, operando em conformidade com as Boas Práticas de Fabricação (BPF). Até então, a terapia só era oferecida de forma experimental e em pequena escala – um paciente em tratamento por vez.
Saiba mais sobre as células CAR-T e como funciona esta terapia celular, na sessão de perguntas e respostas abaixo. Confira também o vídeo gravado com a pesquisadora do Hemocentro de Ribeirão Preto, Camila Dermínio Donadel, que traz informações sobre esta inovação na área da saúde
Como surgiu a terapia com células CAR-T?
A terapia com células CAR-T surgiu nos Estados Unidos e começou a ser aplicada experimentalmente em pacientes de câncer terminal no início dos anos 2010. Os resultados positivos levaram a Food and Drug Administration (FDA), agência regulatória dos Estados Unidos, a aprovar por unanimidade o uso da terapia CAR-T para o combate ao câncer em 2017. No ano seguinte, em 2018, o tratamento rendeu aos seus descobridores, James P. Allison e Tasuku Honjo, o prêmio Nobel de Medicina.
No Brasil, a terapia com células CAR-T foi desenvolvida pioneiramente no Centro de Terapia Celular (CTC-USP), sediado no Hemocentro de Ribeirão Preto. O primeiro voluntário brasileiro, que recebeu o tratamento experimental em 2019, alcançou a remissão total de um linfoma em estágio terminal. Outros pacientes que optaram pelo tratamento também tiveram remissão. Até hoje, a terapia celular se mostrou altamente eficaz contra casos de leucemia linfoide aguda de células B e linfoma não Hodgkin de células B, dois tipos de cânceres de sangue.
Nesta nova etapa, o programa de terapia com células CAR-T é uma iniciativa do Hemocentro Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, da Fundação Butantan e conta com a participação de Instituições de fomento como a FAPESP e o CNPq.
O que é essa terapia celular?
A tecnologia CAR-T Cell é um tipo de imunoterapia que utiliza linfócitos T, células do sistema imune responsáveis por combater agentes patogênicos e matar células infectadas. O tratamento consiste em retirar e isolar os linfócitos T, ativá-los, “reprogramá-los” para conseguirem identificar células do câncer e depois inseri-los de volta no organismo do indivíduo. Nesse momento, as células de defesa modificadas voltam com mais força para eliminar as células tumorais. Todo esse processo, desde a coleta, modificação das células e aplicação no paciente, pode durar em torno de 60 dias.
Por que esta terapia tem esse nome?
CAR-T é como são chamadas as células que são usadas na terapia. O nome CAR-T vem da união de dois conceitos: CAR é a sigla em inglês para receptor quimérico de antígeno (chimeric antigen receptor) e T vem de linfócitos T, células do organismo responsáveis por sua defesa. Na terapia celular, o linfócito T é alterado para exibir em sua superfície os receptores CAR e se tornar ainda mais potente no combate ao câncer – ele deixa de ser uma célula T para se transformar em uma célula CAR-T.
Qual o diferencial da terapia celular?
A terapia com células CAR-T é considerada um dos tratamentos mais inovadores da medicina e representa uma revolução no tratamento do câncer. Ela tem altíssima complexidade e é personalizada, pois usa as células de defesa do próprio paciente para combater a doença. Algumas vantagens da terapia são: redução do uso de remédios para a dor; possibilidade de remissão total ou parcial do câncer; diminuição da necessidade de sessões de quimioterapia; produção nacional para permitir a inclusão do SUS.
Como a terapia com células CAR-T age no organismo?
Após a coleta do sangue, o médico determina parâmetros celulares para separar apenas o grupo de interesse (as células T). Depois, os pesquisadores aplicam em laboratório um reagente que estimula a ativação dessas células. Uma vez que os linfócitos T são ativados e multiplicados, eles são colocados em contato com um vetor lentiviral – um vírus modificado incapaz de causar doença. Esse vetor contém a informação genética de um receptor que reconhece o antígeno chamado CD19, que é expresso na superfície das células tumorais.
Por conter a informação genética do receptor do CD19, o vetor faz a célula T expressá-lo em sua superfície, originando as células CAR-T que serão usadas na terapia – e que se ligarão ao CD19 presente nas células tumorais. O produto é congelado e passa por rigorosos testes de controle de qualidade, para só depois ser infundido no paciente em um processo semelhante à transfusão de sangue. De volta à corrente sanguínea, esse conjunto de células CAR-T reconhece e se liga às células do câncer, induzindo a morte celular.
Aviso Importante
Não realizamos consultas ou atendimentos por telefone.
O e-mail de contato terapia@hemocentro.fmrp.usp.br é a única forma de recrutamento de candidatos ao tratamento.
O e-mail deve ser enviado exclusivamente pelo médico responsável que acompanha o paciente. Não existem formulários ou filas de espera para participar do Estudo Clínico. A iniciativa é totalmente gratuita.